“Paisagem sonora” dos espaços públicos urbanos, sob a ótica da sustentabilidade ambiental

Ao longo de várias décadas, os espaços públicos urbanos exerceram um importante papel na estruturação da vida das cidades, como ferramentas de representação institucional e reprodução social, pois ao funcionarem como sustentáculos da atividade pública, eles motivaram a interação social de diferentes grupos de indivíduos. Contudo, com o advento das cidades industriais e os impactos provocados pela concentração populacional, a exemplo das trocas comerciais, esses espaços adquiriram novas formas de interação social, o que levou a uma interferência negativa na sustentabilidade ambiental. Sabe-se que das inúmeras variáveis que condicionam tal sustentabilidade (qualidades da água, do solo e do ar, sistema de saneamento básico, consumo humano, entre outros), encontra-se a “paisagem sonora”, ou seja, o ambiente sonoro, o sempre presente conjunto de sons com o qual se convive e que está em constante transformação. À medida que se constata uma difusão indiscriminada de sons nas cidades, cada vez em maior quantidade e volume, nota-se que a paisagem sonora torna-se mais ruidosa e como consequência disso entra em desarmonia com o ambiente, sendo caracterizada como poluição. Hoje, há um complexo de políticas públicas voltadas para essa problemática, mas que muitas vezes não têm sido acompanhadas por ações eficazes. Assim, o objetivo geral deste estudo é analisar os principais fatores das políticas públicas que contribuem para a conservação da paisagem sonora dos espaços públicos urbanos sob a visão da sustentabilidade ambiental, com foco na atividade de comércio varejista. Os procedimentos metodológicos utilizados envolveram o uso dos métodos quali-quantitativos (através de revisão bibliográfica e análise documental, aplicação de questionários/entrevistas, medição de níveis de ruído por meio do decibelímetro) interligados a uma abordagem exploratória. Os resultados apontam que o bairro da Boa Vista, localizado na cidade do Recife, não está imune ao problema da poluição sonora, com os níveis de ruído oriundos das atividades do comércio varejista ultrapassando, em muitos momentos, o que está estabelecido em lei. Algumas medidas do Poder Público municipal vêm sendo adotadas para controlar o ruído na fonte, entretanto existem situações em que há inviabilização desse procedimento, quando, por exemplo, reduz-se a fiscalização de rotina ou devido à falta de consciência ambiental por parte do produtor de ruído ou até mesmo da sociedade. Assim, esse quadro corrobora com a ideia inicial de que é preciso existir uma gestão ambiental mais enérgica; uma gestão democrática e detentora de ferramentas eficazes que não apenas solucionem os problemas mais evidentes, mas que tenham uma cobertura científica planejada e abrangente. Em contrapartida, é importante ter em mente a necessidade de as mudanças serem vistas não apenas como dever da esfera pública, havendo o envolvimento da população no processo. A percepção dos problemas ambientais, sendo um tema de grande relevância não apenas para os ambientalistas, bem como para toda a sociedade, necessita ser aprofundada sempre. Ela auxilia na compreensão das interrelações entre o homem e seu ambiente, suas expectativas, anseios, satisfações e insatisfações, condutas